Lombar e articulações são as partes mais afetadas neste período em que as pessoas ficam a maior parte do tempo em casa, agravando o sedentarismo. Cuidados devem ser redobrados
Dor nas costas, tanto na região lombar quanto na cervical, dores nas principais articulações, como joelho e quadril, são, segundo o ortopedista especialista em coluna vertebral Daniel Oliveira, as principais reclamações feitas por pacientes durante o período de isolamento social. Quadro que Daniel considera ser consequência direta do maior tempo passado dentro de casa, o que tende a aumentar o nível de sedentarismo da população.
Nesse contexto, o especialista destaca que hábitos sedentários por si só já são fatores capazes de propiciar o aparecimento e/ou agravamento de dores no sistema musculoesquelético. Esse aspecto, associado às mudanças promovidas pela pandemia no modo de trabalhar e resolver demais situações, provocou a execução de diversas atividades diárias sem estrutura adequada, sobrecarregando, assim, a musculatura.
“No home office, por exemplo, a ergonomia de um ambiente de trabalho improvisado, muitas vezes, deixa a desejar. Sendo assim, é comum, nesse cenário, que o computador esteja muito abaixo da linha dos olhos, as cadeiras com encosto baixo ou sem encosto, sem apoio para os antebraços, e por aí vai. A situação se agrava ainda mais quando o local escolhido para trabalhar é o sofá ou a cama.”
E foi justamente o trabalho remoto que gerou o aparecimento de dores em Pollyana Isabela Ribeiro, de 36 anos. A advogada conta que, por atuar de forma 100% digital desde o início do isolamento social, as dores na lombar se tornaram um reflexo dessa nova realidade.
“Todas atividades estão sendo feitas em casa, via internet. Sendo assim, a falta de esforço físico compromete a mobilidade do meu corpo. Já passei mais de 13 horas sentada em frente ao computador, dividindo entre trabalho e estudo. Com o agravamento das dores, houve um uso excessivo de remédios anti-inflamatórios, relaxantes musculares e todo tipo de medicação que promete alívio imediato. No entanto, não funcionam mais”, relata.
O ortopedista ressalta que alguns hábitos podem ser cruciais para o agravamento das dores, como se manter sentado por um longo período de tempo, não manter os pés firmes no chão durante os momentos em que estiver sentado, não apoiar as costas na cadeira e/ou ficar com as pernas cruzadas ou com o quadril mal posicionando, de forma a escorregar na cadeira.
“Mexer no celular por muito tempo, flexionando a cabeça para baixo e forçando a região cervical, não fazer pausas para se movimentar ao longo do dia, passando muitas horas na mesma posição e/ou trabalhar sentado no sofá ou na cama. Tudo isso favorece o aparecimento dessas dores.”
Quanto ao sedentarismo, Oliveira ressalta que é um fator agravante: sem movimento, o corpo tende a ficar enrijecido, o que o torna mais suscetível a lesões e/ou ao aparecimento de dores crônicas. “Desenvolver a força e a flexibilidade do corpo é essencial para manter o sistema musculoesquelético saudável e evitar dores”, pontua.
De acordo com o ortopedista, a longo prazo, as dores podem se agravar, tornando-se crônicas ou resultando no aparecimento de patologias. Portanto, Oliveira destaca que permanecer sedentário e/ou manter os hábitos provocadores de incômodos podem acarretar resultados negativos e problemas mais sérios. “Como resultado cumulativo, diversos problemas podem surgir no sistema musculoesquelético, como lombalgia e uma infinidade de alterações posturais e dores articulares.”
Além do fator comportamental, o especialista pontua que o frio pode influenciar no aumento das dores. Com o início do inverno e a chegada das temperaturas mais baixas, há uma tendência de que as pessoas fiquem mais sensíveis à dor, principalmente aquelas que já sofrem com algum tipo de dor crônica, seja problemas relacionados a coluna ou mesmo artrite.
“Isso ocorre porque a musculatura tende a se contrair involuntariamente, em uma tentativa de aquecer o corpo. Com essa contração, o sangue sai das articulações em direção ao tronco para manter nossa temperatura constante. Porém, quanto mais parado o corpo ficar, mais dor”, explica.
ROTINA
Oliveira destaca que a primeira atitude a ser tomada, a fim de aliviar os sintomas de dor e evitar danos mais sérios, é dar início a um planejamento de rotina de atividades físicas. No entanto, o ortopedista pontua a importância de uma avaliação médica e fisioterápica antes de começar os exercícios.
“Após as avaliações serem feitas, o educador físico e/ou fisioterapeuta será o profissional adequado para elaborar um programa de atividades compatível com as condições e objetivos de cada pessoa. Em meio à pandemia de COVID-19, diversos profissionais estão prestando esse tipo de serviço on-line, o que é muito útil nesse período de isolamento.”
É o que fez Pollyana. “Tenho feito alongamentos dentro de casa e praticado ioga via internet. Ainda não obtive resultados positivos, pois iniciei as atividades há poucos dias. Mas espero que funcione.”
Quanto ao home office, Oliveira destaca a necessidade de adaptar o local de trabalho, a fim de manter uma postura adequada e evitar dores, e realizar pausas ao longo do dia, com alongamentos, para não ficar muitas horas em uma mesma posição.
O ortopedista destaca ser importante identificar a dor como fato persistente e/ou limitador, pois, assim, pode se fazer necessário uma avaliação médica, a fim de analisar o quadro clínico individualmente. “Após detectado o problema, o ortopedista dará o direcionamento necessário, recomendando sessões de fisioterapia, adaptações na rotina diária e outras soluções, a depender do caso”, diz.
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram